Para quem acredita (mesmo em silêncio)!

Querida eu,

Lembro-me de quando não tinhas medo de nada.
De quando o futuro era apenas um lugar bonito onde cabiam todos os teus sonhos.
Depois, a vida chegou - com as dores, as pausas e os medos. E, aos poucos, foste ficando mais cautelosa, mais contida, como se a coragem tivesse de ser guardada para os dias certos.

Mas agora vejo que te estás a reencontrar.
Percebo que não perdeste a tua força - apenas aprendeste a usá-la com mais sabedoria.
Tornaste-te alguém que conhece o peso das quedas e, mesmo assim, escolhe levantar-se.
A criança que foste teria orgulho em ti.
E tu também devias ter.

Porque, apesar de tudo, estás aqui.
E isso, por si só, já é uma vitória.

E sabes que mais?
Esta carta podia ser para mim, mas também é para todos nós.
Para todos os que cresceram, tropeçaram, perderam o rumo e, ainda assim, continuaram a caminhar.
Para quem duvidou de si, mas acordou mais um dia e tentou outra vez.
Para quem achou que era fraco, quando, na verdade, estava apenas cansado.

Se ninguém te disse ultimamente: tens motivos para te orgulhar.
A vida nem sempre é gentil, e mesmo assim tu foste.
Mesmo assim, fizeste o teu melhor - e isso basta.

Olha o quanto já superaste.
Olha o quanto já cresceste.
Olha o quanto ainda há em ti de esperança.

Porque a coragem não se perde.
Apenas se transforma - e, às vezes, demora um pouco até voltarmos a reconhecê-la em nós.
Há dias em que parece que nada muda, mas é mentira - há sempre algo que floresce em silêncio.
Há feridas que não se vêem, mas que se transformam em raízes, dando-te uma força que não sabias que tinhas.
E um dia, sem perceberes bem como, dás por ti a sentir que já não dói tanto. Que consegues respirar melhor. Que voltaste a sorrir com o coração.

Somos feitos de recomeços - pequenos, lentos, por vezes quase invisíveis.
Mas são esses recomeços que nos constroem.
Não as quedas, nem o medo, mas a escolha de continuar.

Por isso, se hoje te sentes cansado, perdido ou sem rumo, lembra-te:
já foste corajoso antes, e voltarás a ser.
O tempo não te roubou nada - apenas te mostrou o que realmente importa.

E no meio de tudo, ainda há luz em ti.
Mesmo quando achas que já não há.
Mesmo quando o mundo te pede silêncio, há uma parte tua que continua a acreditar.
E é essa parte - pequena, teimosa, luminosa - que te trouxe até aqui.

Com ternura,
Alguém que também aprendeu a não desistir.